“Because
the fakes are as good as the real ones, and there’s a market,
and there’s a demand”.
Edith
Sommeri
Talvez
a sensação de horror seja a mais complexa e aguda das emoções que
um corpo é capaz de sentir. O horror, estando conectado a um evento
narrativo, isto é, a um acontecimento que se desdobra sob nossos
olhos com seu poder de enredo é, de alguma forma, menos terrível do
que o horror deslocado e que fica girando em torno de si mesmo. Com o
horror auditivo não podemos fechar os olhos! Ao fechá-los vemos
algo com os olhos da imaginação, e esta é a dupla-pinça do
pânico. Mas haveria sensação pela sensação? Convenhamos: o
horror que corre atrás do próprio rabo seria uma concepção de
inferno até mesmo para um ateu.
Moro
nestas terras frias na região centro-norte da Romênia. Sou um
pintor, mas de uma espécie contraditória. É isso que vou narrar
nesta história. Acabo de falar com D. Lourenço. Estamos envolvidos
em um negócio ilegal de receptação e alteração de telas de
artistas menos conhecidos da região. Um professor de pintura nos
ajuda, fornecendo-nos telas de seus alunos: diz a eles que são
enviadas à Inglaterra para avaliação dos museus. Mas não! As
telas são trazidas para minha residência e aqui mesmo alteradas com
métodos complexos de modificação dos originais.
Nossa
metodologia consiste em assinar essas telas com nomes de pintores
famosos e vendê-las para burgueses da região. Um trabalho comum,
mais ou menos rentável, embora não o façamos por dinheiro.
Quem
é D. Lourenço? Posso dizer que é uma figura austera. Pouco sei de
sua vida e pressinto que é melhor continuar sem saber, visto que seu
caráter contido e sombrio lembra-me a impressão infantil de que não
devemos nos aproximar da escuridão de um bosque nem falar com
estranhos na rua. Acabamos nos conhecendo em uma exposição e desde
então somos amigos.
Moro
sozinho na parte mais isolada da cidade. Odeio sair. Saio apenas
durante a noite, pois não gosto de ser visto pelos arredores. Além
disso, tenho esta espécie de prisão domiciliar no sangue, afeição
ao claustro. Quanto a Lourenço, eu não sei. Quase não conversamos. Somos amigos como dois lobos fazem parte de uma alcateia. Apenas
temos a tarefa de executar as pinturas. Encontramo-nos aqui para
pintar; um tipo diferente de pintura. Apresentei-lhe a técnica de
falsificação que venho usando e lhe contei sobre os propósitos
íntimos do meu sistema de fraudes. Ele se sentiu tocado pela ideia e
pediu para ingressar no plano, pois também perseguia,
inconscientemente, o estilo irônico do ato ao qual eu estava atado.
Enfim, apenas nos reunimos para fazer alterações nas telas que
recebemos do professor e, por fim, assinamos com nomes de pintores
conhecidos e as inserimos no sistema famigerado dos marchands.
Enfim,
falsificamos o óbvio, falsificamos telas sem clamor metafísico. A
questão sempre recai no perfil moral de quem compra nossos truques
de burlesco. Há quem os compre, e quantos o fazem! Contudo, não
precisamos de dinheiro. Nossa empreitada é fundada em outra
perspectiva, não menos famigerada que o desejo por dinheiro.
O
leitor deve saber que Lourenço e eu não somos personagens, e sim
duas figuras conceituais na história da arte, ou melhor, na história
do vampirismo artístico. Mera coincidência habitar a Romênia.
Acostumado
a forjar telas, sinto que devo forjar alguns dados para que o leitor
não caia no tédio de um texto puramente dissertativo, visto que
vivemos em um século de dissertações, e o vício acadêmico de
querer explicar tudo é uma decadência do inconsciente. Porém,
aviso desde já que os fatos aqui são inventados, menos o fato de
que falsificamos telas e os objetivos que desejamos alcançar com os
procedimentos.
Mas
em que consistem as falsificações? Acabamos de obter uma tela com o
tal professor, e assinamo-la com o nome de um artista que despontou
há algum tempo na pintura francesa. Uma boa quantidade de dinheiro
resultará desta fraude. Contudo, conceitualmente, uma confusão na
história da pintura...
Recebemos
uma carta de um burguês em ascensão que acaba de comprar uma
residência nos arredores. É sempre mais divertido vender telas
falsas para um filisteu desavisado. Sou conhecido por minhas
“coleções” de pintores clássicos. Digamos que posso ser
considerado um colecionador. Porém, na realidade, apenas
falsificamos a assinatura do pintor, se é que o leitor já percebeu,
pois toda a composição é manuseada com maestria. Contudo, a
composição-base não pode ser nossa. Isso seria impossível e todos
sabem o motivo: a inexistência de uma tela em branco. Todas as telas
já estão pintadas, todas!
Como
em toda profissão, também temos nossos momentos de diversão. Já
que a isto estamos condenados, que seja, ao menos, divertido! Nosso
humor é aquele do riso de escárnio. Há muita ironia subliminar em
nosso procedimento de alteração das telas. Por que não as pintamos
como artistas normais? Por que não somos homens da área? Isto não
pode ser revelado!
Fomos
condenados a isso, fomos condenados a não ter identidade e mesmo
assim a possuir a ânsia criativa de artistas. Ao conhecer Lourenço,
acabei por condená-lo também. Estamos atados ao anonimato e
perdemos nossos sonhos de demonstrar quão bons seríamos. Somos
conscientes da condenação, e nossa colônia penal é ter a sensação
constante de criatividade e, ao mesmo tempo, não dizer que somos os
autores das telas. É um ascetismo maníaco, é um dar esmolas sem
que ninguém o saiba. Mas nunca, nunca trabalhamos em uma tela em
branco. Em primeiro lugar, porque elas não existem, como eu já
disse. Cada tela em branco já não está em branco. Todas as telas
já possuem esboços. A cultura já pintou tudo... Mesmo as telas em
branco já estão rabiscadas, estão repletas de clichês criativos e
rearranjos de cópias. Estamos presos a um anonimato induzido, mas
sabemos como extrair o riso da condenação.
Em
resumo, somos uma espécie de xeque-mate do processo criativo e nos
divertimos com isso, já que não podemos nos livrar desta condição.
Tornamo-nos lúdicos, gostamos do jogo e o escolhemos como estilo de
vida: empurrar na história da pintura alguns “equívocos”,
empurrar a fraude na História. Talvez? O que é a cópia? O que é o
original? Quem decide? Desmascarar os marchands e o mercado de
arte? Talvez!
Fomos
escolhidos para isto. A nossa criatividade tornou-se viciosa,
tornou-se um fragmento venenoso da lógica. Ora, de onde provêm
todas as monomanias se não da lógica? O leitor percebe que neste
texto não encontrará o enredo, o picaresco, o chamariz do
entretenimento na leitura. O que se segue é um estudo dos processos
da mentira artística.
E
não pensem que os entendidos conseguem decifrar os enigmas que
lançamos com as telas: nem mesmo os familiares dos pintores
conseguem identificar se o quadro pertence ou não ao artista.
Lourenço
foi ludibriado por meu discurso sobre estética e, acreditando estar
no caminho de uma grande ironia na história da pintura, agora é
também parte desse jogo lúgubre do espírito artístico.
Para
resumir, nosso procedimento é o seguinte:
1.
Receptamos uma tela de um aluno das mãos do professor corrupto;
2.
Avaliamos o que nela pode ser alterado para que saia do estado de
estudo preliminar;
3.
Refletimos filosoficamente sobre as alterações que serão feitas
no quadro, algo além da mera representação;
4.
Executamos a sobreposição da pintura com nossos temas e conceitos;
5.
Pensamos em algum artista que tenha elementos formais parecidos com
a tela que alteramos;
6.
Assinamos o nome do pintor;
7.
Oferecemos ao mercado de arte e sentimos o alívio vital atingido
apenas com o ascetismo.
Procedimento
bem simples, visto no passo-a-passo. Contudo, estamos longe de
“copiar” telas, na verdade. Elas ficam melhores com o nosso
“toque”, pois conseguimos extrair das paisagens ou das naturezas
mortas desses simplórios alunos um efeito que só é atingido por
meio do procedimento do desvio. Ficamos presos às formas e não aos
temas.
Trata-se
de uma cadeia de diálogo com os artistas menores, de uma forma ou de
outra. “Consertamos” as pinturas com o sopro da distorção.
Fomos chamados de vampiros-pintores, mas na verdade o que houve no
início é que fomos vampirizados pela Agência, e agora esta é a
nossa vingança. No princípio entendi isso como punição, mas agora
entendo como um procedimento fundamental para a história da arte.
Somos punidos e nos vingamos ao mesmo tempo, estranho procedimento de
afirmação e diferença.
Assim
procedendo, “arrumamos” as telas para que elas não sejam tão
óbvias, tão escolares. Ora, perguntará o leitor: “Mas porque não
assinam vocês mesmos as telas, já que elas ficam tão
interessantes?”. A resposta é simples: Estamos condenados a
permanecer na soleira do processo criativo, e o anulamos por um ato
de ascetismo. Entendemos a lição moral de nossa condenação.
Nunca poderemos assinar nossas telas. Não queremos nossos nomes
nelas, nem sermos aclamados como autores de coisa alguma, perdoe-nos
Schopenhauer. Aprendemos isso: um jogo infinito, uma tensão
infinita, assim como o é toda a história da pintura. Talvez todo
pintor sofra de uma monomania, e estas notas não podem ser vistas
com pretensão literária devido ao tédio promovido pelo estilo.
Estão mais para diagnósticos de estados físicos de dois sonâmbulos
da forma.
*
*
*
Em
uma dessas noites de ócio, quando já havíamos terminado as
alterações de duas naturezas-mortas, fui para o estúdio para
escrever um pouco. Sentei-me por uns instantes, reli algumas
passagens já escritas, e a ideia insistente de que nunca vou possuir
o fenômeno da completude do discurso me causou enjoo e repulsa
daquilo que já escrevera até então.
Nessa
noite, Lourenço foi à residência do nobre. Ele sabia que não
deveria ir entregar as telas; essa era minha tarefa. Entretanto, foi.
A tela-base que utilizamos para fazer a encomenda era a representação
de um cachorro, na verdade um estudo simples sobre a figura canina.
Trabalhamos um bom tempo no material até atingir uma consistência
conceitual satisfatória. Embrulhei o material com um pedaço de
tecido e um barbante; e Lourenço se pôs a caminho. Caso o leitor
esteja curioso, apresento aqui uma cópia da tela finalizada:
Já
estava por mais de duas horas remexendo em meus manuscritos, após a
partida de meu amigo e, verificando o que deveria ser cortado ou
melhorado no texto, e comecei a me sentir desconfortável, um
desconforto na coluna, um ranger de ossos.
Um
mal estar espiritual formou-se em mim e percebi que vagava pelo
estúdio como um autômato. Deitei-me por um momento, mas algo me
incomodava, como se minha sensibilidade tivesse captado uma aranha
movendo-se atrás dos móveis sem que eu a visse, mas a pressentisse.
Vagando
de um canto para o outro e com um mal-estar irresponsável no corpo,
decidi sentar-me à poltrona que fica junto à cama, e abri um de
meus livros preferidos.
O
mal-estar continuou. Comecei a rastrear as razões de meu incômodo.
Que sensação era aquela que me oprimia a respiração e me fazia
querer correr para fora daquele cubículo e desistir desta vida de
ilusão à tinta a óleo?
Havia
uns dois ou três dias, quando levava uma das telas falsas para um
cliente, passara por uma estrada íngreme. Arriscara-me pelo
caminho, pois até então não conhecia o local. Notei algo muito
estranho na estrada: era uma espécie de colchão de casal, do qual
alguém da vizinhança se desfez. Nesse colchão, encontrei um
cachorro preto e branco, completamente saudável, que esticava todo o
corpo. Uma das primeiras coisas que percebi no animal foi que o
focinho possuía extrema beleza e um formato muito singular. Por
estar deitado, pensei que o cachorro estivesse doente ou algo do
tipo, visto que os animais adoentados ficam como que encolhidos, como
se a morte lhes apontasse um dedo punitivo, por suas pequenas vidas
de puro instinto. Percebo essa morbidez quase sempre nos pombos da
cidade, que ficam encolhidos e parecem inchar completamente como se
quisessem se dilatar contra a violência da doença.
Contudo,
notei, pela expressão do cachorro, que ele era plenamente saudável.
Seu porte físico era amedrontador. Passei pelo local com grande
temor, pois, mesmo não se incomodando com minha presença, o animal
provocou-me um estado de sonho: ao passar por ele senti que, a
qualquer momento, eu poderia ser atacado. Porém, imaginar que ele
estivesse ali há dois dias, sem comida ou água, pareceu-me bastante
estranho. Nem ao certo sabia se ele estava ali por muitos dias, mas
minha mente projetava certa quantidade de dias e a falta de comida e
de água – tal é a mente humana ao querer colocar narração em
tudo. A justa imagem do cachorro já trazia aquelas informações.
Engoli-as. Mas a imagem pura permanecia: o cachorro sem narrativa
sobre o colchão.
A
princípio, pensei que o animal fora abandonado, estivesse perdido
ou, como já mencionado, simplesmente doente. Mas não! Era um bloco
de saúde. E aquele maldito colchão? O que ele representava? Senti
que, no fundo do meu espírito, surgia o desejo de decifrar não o
cachorro-esfinge, mas o colchão-suporte.
Percebi,
ainda em estado de sonho, que o local recebera uma quantidade de
detritos, madeiras velhas e todo tipo de entulho imaginável. Tudo é
por ali aglomerado: tudo amontoado e à procura de coesão.
Os
materiais pontiagudos e empoeirados quase sempre recebem como açoite
uma fogueira, acesa quase diariamente por moradores de rua,
pressenti. Convenhamos que o frio e a umidade do lugar justificam as
fogueiras, mas aquele era um local de abandono no sentido estrito da
palavra.
O
lugar é terrível e, na gelidez deste período do ano, tenho a
sensação de que uma desolação cósmica morde esta região pelas
laterais, como se o terreno não fizesse parte da cidade, não
fizesse parte sequer do tempo, assemelhando-se a um produto caído
ali e vindo de outra época.
O
amontoado de lixo sempre chama a atenção de crianças; todos os
miseráveis dos arredores aparecem para remexer a destruição lá
depositada. Imaginei que, quase todos os dias, a mesma coisa
acontecesse: fogueiras, gritos, lixo sendo remexido e, agora, um
cachorro que aparecera sem mais nem menos e habitava um colchão de
casal, um odiável colchão, suporte para todo o meu horror, signo
indecifrável.
Naquela
noite, relembrando esse fato e completamente debilitado pelo esforço
excessivo dos sentidos – assim como pelo frio que cortava minhas
têmporas, pus-me a ler meu livro enquanto Lourenço não retornava.
As horas passavam e comecei a me incomodar com a demora de meu
comparsa.
*
*
*
Recobrei-me
do devaneio e, de repente, ouvi um grito: um rugido terrível, como
se alguma criatura viva, animal ou pessoa, houvesse sido esmagado por
algo muito pesado. Um ranger de carne rasgou minha atenção em duas
partes: de um lado, minha perplexidade; de outro, minha ternura pelo
animal ou pessoa que havia sofrido a violência.
O
real ficou tomado pelo cachorro. As imagens se desdobraram como em um
passe de mágica. Um som terrível, um som ainda mais terrível por
não ter atingido meus olhos, mas apenas meus ouvidos. Um maldito som
sem imagem. Estremeci e apertei com força meu livro.
Senti
um arrepio correr por meu corpo todo e tive a estranha impressão de
que as pessoas na rua haviam matado o cachorro, e o som percorria
todo o percurso para gritar aos meus ouvidos, porque eu havia visto o
colchão. Mas como o som teria chegado até ali? A distância era
razoável. Se eu não conseguia ouvir os sinos da igreja local por
causa da distância, como era possível ouvir o esmagamento do animal
que estava mais longe do que o campanário?
A
sensação de algo extremamente pesado contra a maciez da carne do
animal e do colchão me deixou abismado, como se um buraco houvesse
aparecido no chão de meu quarto por um processo de erosão
geometricamente planejada. Pulei da cama para o chão e me agarrei às
tábuas do assoalho, como Pascal deve ter feito em seus delírios de
estar caindo em um abismo.
Pensei
em absurdos, como alguém a espremer o cachorro contra uma chapa de
metal enorme e maciça, impossível de ser carregada por qualquer
pessoa. Fiquei horrorizado… O grito entrou no estúdio como um
fantasma terrível que, ao invés de me assustar e me colocar em
estado de defesa, deixou-me numa situação de atividade extrema,
mesmo sem que meu corpo se movesse um centímetro, para que eu não
caísse na cratera aberta em minha imaginação.
Ainda
estava agarrado às tábuas do chão. Visualizei o cachorro esmagado
por essa placa de metal, e a imagem que veio à minha cabeça era de
uma distorção horrenda em que, em meio à cor, branca e preta, do
cachorro-esfinge, agora também poderíamos encontrar o vermelho
profundo e pungente de um sangue denso e fluido, o sangue
desesperador daqueles que sofrem por violência gratuita, não mais
sangue, mas o vermelho. O vermelho fora derramado, não mais o
sangue, apenas a cor, a cor pura!
Logo
após o grito, senti que meu mal-estar havia se tornado algo
insuportável… Momentos após, fui capaz de ouvir as vozes de
pessoas que circulavam o local e, para confirmar minha estranha
especulação nervosa, tive certeza de que foram elas que
assassinaram o pobre animal com a insustentável placa de metal. A
sensação de piedade, a extrema compaixão e a incapacidade em
separar a carne do cachorro e a carne humana colocaram-me num estado
de paralisia.
Poderiam
aquelas malditas pessoas ter ferido o cachorro a ponto de subverter a
força humana de carregar pesos absurdos? Que horror sem narrativa e
sem referência! No fundo de minha consciência, eu me arrependia por
roubar quadros, arrependia-me de todos os meus pecados, arrependia-me
de meu egoísmo; uma moralidade havia entrado no quarto com o grito,
mas uma moralidade trazida pelo medo, uma espiritualidade cravada com
a ajuda do horror.
Era
isso: um grito que não se diferenciava de mais nada, um grito puro
que carregava consigo um enredo obviamente falso, mas que, no momento
era tão verdadeiro, como se a morte que aparece nas ilustrações
clássicas pedisse outra forma de ser retratada. Se no Pesadelo
de Verlaine a morte é um cavaleiro vestido de escuridão, esta morte
era uma aglomeração de pessoas empurrando um bloco maciço de
metal.
O
grito só poderia ter vindo de uma ação como essa! Era um grito
demasiado opressivo, como se após aquilo não pudesse haver mais
vida, nem a de um micro-organismo; era a extinção absoluta de
qualquer espécie de vida.
Súbito,
ouvi umas pancadinhas na janela. Estremeci! Alguém batia à porta.
Encolhi-me. Saí para ver quem era. O vento frio me insultou o rosto.
Não havia ninguém. Olhei para baixo e vi um embrulho colocado na
soleira da porta. Abri o pacote e vi a pintura que meu amigo de
profissão saíra para entregar.
Fiquei horrorizado com o que via.
Fiquei horrorizado com o que via.
Nunca
mais tive notícias de Lourenço. Apenas sua sombra, ao lado do
cachorro, permaneceu na tela.
Mr.
Blank
i
* A epígrafe foi extraída do
documentário “F for Fake”, de Orson Welles, sobre a vida de
Elmyr de Hory. A frase é de Edith Sommer, esposa de Clifford
Irving, escritor e repórter americano. Irving
é autor de Fake!
The Story of Elmyr De Hory, the Greatest Art Forger of Our Time.
©
Mr. Blank, 2013
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